Nome completo José António Nunes Mexia Beja da Costa Falcão. Nasceu em Lisboa, mas é um alentejano dos quatro costados. Descendente de velhas famílias do Alentejo, está unido por laços de sangue a vultos que marcaram a história nacional. Entre eles cabe referir Diogo Fernandes de Beja (Beja, ? – Chaul, 1551), diplomata e guerreiro na Índia durante a primeira metade do século XVI; João Cidade (Montemor-o-Novo, 1495 – Granada, 1550), o futuro São João de Deus, fundador da Ordem Hospitaleira; e D. Fr. Amador Arraes (Beja, 1530 – Coimbra, 1600), bispo de Portalegre e autor de “Diálogos” [1589], um clássico da literatura portuguesa.
Brasão de armas de José António Falcão, por José Bénard Guedes, secretário-geral do Instituto Português de Heráldica (2010).
Depositário de notável cursus studiorum –licenciado em História da Arte e em Arquitectura, mestre em Museologia e doutor em Teoria e História da Arquitectura–, orientou desde cedo as suas actividades para os domínios da investigação e da conservação do património cultural. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian especializou-se no campo da arte sacra, tendo sido discípulo de mestres de eleição, entre os quais os professores Pere de Palol e Santiago Sebastián, cujos ensinamentos o levaram a dedicar-se aos domínios da arquitectura religiosa e da iconografia cristã. Optou pela carreira nos museus, realizando o estágio no Museo Nacional de Cerámica y de las Artes Suntuarias, de Valência (Espanha). Viria a completar o tirocínio profissional em museus e centros de investigação europeus e americanos.
No âmbito da profissão museológica, foi conservador (1993-1995) e director (2003-2008) da Casa dos Patudos, em Alpiarça. Exerceu igualmente funções técnicas no Museu de Évora e no Museu Calouste Gulbenkian. Organizou a rede museológica da Diocese de Beja, com sete pólos (Santiago do Cacém, Cuba, Castro Verde, Moura, Sines e Beja). Possui a categoria de conservador-chefe de museus.
O seu principal campo de acção tem sido no Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, que dirige desde a fundação, em 1984, e ajudou a tornar um organismo de referência, ao nível nacional e internacional, para o estudo, a salvaguarda e a valorização dos bens culturais religiosos.
Durante os tempos conturbados que se seguiram à “revolução dos cravos”, Beja, a segunda diocese do país em extensão, mas também a mais despovoada, não dispunha de meios para acudir aos seus monumentos e obras de arte, alvo de abandono e furtos. Trabalhando em parceria com outras instituições, o Departamento do Património Histórico e Artístico, constituído essencialmente por voluntários, pôs em marcha um projecto pioneiro para o resgate da arte sacra.
Isto permitiu dar passos fundamentais para preservar e dar nova vida a áreas sensíveis da identidade alentejana. Do seu longo rol de iniciativas cabe destacar a celebração de protocolos com institutos do Ministério da Cultura e com as Câmaras Municipais; a conservação de igrejas históricas e o restauro dos seus tesouros artísticos; a organização de exposições em Portugal e no estrangeiro; a criação da Rede de Museus da Diocese de Beja; a promoção de cursos e outras acções de formação; a edição de estudos e documentários; a entrada em funcionamento de percursos de visita; e a realização do Festival Terras sem Sombra de Música Sacra do Baixo Alentejo, de que é actualmente director-geral (a direcção artística corresponde, desde 2010, a Paolo Pinamonti, professor da Universidade de Veneza e ex-director do Teatro Nacional de São Carlos, de Lisboa).
Este ingente esforço foi assinalado com várias distinções nacionais e internacionais: Prémio APOM (Associação Portuguesa de Museologia) (1989-1991), Prémio Prof. Reynaldo dos Santos (2001), Medalha de Mérito Cultural (Ministério da Cultura, 2004), Prémio Europa Nostra para a Salvaguarda do Património Cultural (União Europeia, 2005), Prémio Vasco Vilalva de Salvaguarda do Património (Fundação Calouste Gulbenkian, 2008) e Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes (Secretariado Nacional de Pastoral da Cultura, Conferência Episcopal da Cultura, 2010).
A actividade como investigador tem incidido especialmente no património artístico do Sul de Portugal, para cuja divulgação contribuiu com o comissariado de exposições no país e no estrangeiro, como Entre o Céu e a Terra, As Formas do Espírito ou No Caminho sob as Estrelas – Santiago e a Peregrinação a Compostela.
Enquanto docente, vem colaborando com a Universidade Católica Portuguesa e outras instituições portuguesas, espanholas, brasileiras e norte-americanas na formação de novos conservadores do património religioso.
A sua bibliografia conta com cerca de uma centena de títulos, a maioria dos quais dedicados à história da arte e da arquitectura.
Pioneiro no estudo da arte sacra do Alentejo, tem chamado a atenção dos especialistas e do grande público para a existência, em terras meridionais, de uma verdadeira civilização artística, resultante do diálogo entre as vivências características do Atlântico e do Mediterrâneo. A isto acresceu, segundo o mesmo investigador, um confronto das raízes europeias (cristãs, mas também judaicas e islâmicas), com as tradições religiosas e culturais de outras áreas do antigo império português – África, Índia, China, Japão, Brasil e Rio da Prata –, que esteve na origem de sínteses de grande originalidade plástica. O estudo comparativo das manifestações estéticas dos centros difusores e das periferias no âmbito do património alentejano representa outra das suas contribuições para a história da arte. A sua intervenção dentro e fora das fronteiras de Portugal foi alvo, há alguns anos, de um louvor do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS) da UNESCO.
É membro da Academia Nacional de Belas-Artes, da Academia Portuguesa da História, “académico correspondiente” por Lisboa de la Reial Acadèmia Catalana de Belles Arts de Sant Jordi (Barcelona-Espanha) (1986), e de agremiações similares da Europa e da América.
O seu currículo conta com o desempenho, entre outras, das funções de secretário da Comissão Nacional de Arte Sacra e do Património Cultural, director-adjunto do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, presidente da Real Sociedade Arqueológica Lusitana e presidente da APAMOR – Associação Portuguesa dos Amigos dos Monumentos Religiosos.
Actualmente preside à Associação Portuguesa dos Museus da Igreja Católica e é secretário-geral adjunto de Europæ Thesauri, de que foi um dos membros fundadores. Colaborador regular do jornal Notícias de Beja e da revista Mais Alentejo, onde assina rubricas sobre arte e cultura. Com Edna Nobre, tem igualmente um programa semanal na Antena Miróbriga, intitulado Tudo tem uma História, muito escutado no Alentejo e na Grande Lisboa.
Em reconhecimento pelos serviços prestados ao país, o Presidente da República Portuguesa, Prof. Aníbal Cavaco Silva, atribuiu-lhe em 2009 as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito. O Município de Santiago do Cacém outorgou-lhe nesse mesmo ano a Medalha de Mérito pelos importantes contributos dados ao estudo do património cultural do concelho. O rei Juan Carlos I fez-lhe entrega, no ano de 2011, da cruz da Orden Civil de Alfonso X, el Sabio, em sinal de agradecimento por serviços prestados à investigação da arte espanhola. É sócio honorário da Sociedade Arqueológica de Atenas (Grécia).
Bibliografia seleccionada
. “As Vozes do Silêncio. Imaginária Barroca da Diocese de Beja”, Beja – Lisboa, Departamento do Património Histórico e Artístico – Estar Editora, 1997.
. “Rosa Mystica – Mariendarstellungen aus dem Südlichen Portugal”, Regensburg, Schnell und Steiner, 1999 (em colab.).
. “Entre o Céu e a Terra. Arte Sacra da Diocese de Beja, I-III”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 1998.
. “O Alto-Relevo de Santiago combatendo os Mouros da Igreja Matriz de Santiago do Cacém”, Beja – Santiago do Cacém, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja – Câmara Municipal de Santiago do Cacém, 2001 (em col.).
. “As Formas do Espírito. Arte Sacra da Diocese de Beja, I-III”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2004.
. “Fragmentos de Eternidade. Imagens da Virgem na Arte dos Séculos XVI-XIX”, Alpiarça, Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, 2004.
. “O Jardim das Hespérides. Pintura Espanhola do Século XIX na Colecção da Casa dos Patudos”, Alpiarça, Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, 2005.
. “Visões do Invisível – Património Religioso da Margem Esquerda do Guadiana, Beja”, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2005.
. “A a Z – Arte Sacra da Diocese de Beja”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2006.
. “Filhos do Sol, Filhos da Lua. Aspectos da Criação de Gado Bovino e da Tauromaquia na Casa dos Patudos”, Alpiarça, Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, 2006.
. “Os Corpos e as Almas. Obras de José Malhoa na Colecção da Casa dos Patudos”, Alpiarça, Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, 2006.
. “XIX Século XX. Momentos da Pintura Portuguesa na Casa dos Patudos”, Alpiarça, Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, 2007.
. “Un Río de Agua Pura. Arte Sacro del Sur de Portugal”, Borja – Beja, Centro de Estudios Borjanos, Institución “Fernando El Católico” – Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2008.
. “O Coração da Terra. Aspectos da Ruralidade na Arte Europeia (Séculos XVII-XX)”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2008.
. “Atmosferas, Pessoas, Narrativas. Um Relance sobre a Arte do Ocidente (Séculos XVII-XX)”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2009.
. “Imagens Eloquentes. Arte Europeia dos Séculos XVIII-XX”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2010.
. “Loci Iacobi – Lugares de Santiago, Lieux de Saint Jacques”, Beja, Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, 2011.
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